Miguel Soares, “2048”
Faz este ano quinhentos anos a primeira edição de “Utopia” de Thomas More, relato de um viajante português descrevendo uma ilha ficcionada onde pareciam ter sido resolvidos os principais problemas da sociedade de então.
No projecto agora apresentado na Galeria Graça Brandão, Miguel Soares simula momentos num hipotético futuro próximo, pegando em certas ideias retiradas da “tradição utópica” portuguesa (Camões, António Vieira, Pessoa), da teoria das Três Idades de Joaquim de Fiore, da utopia de More, ou ainda de elementos da escatologia de algumas das principais religiões, fundindo-as com ideias mais recentes como a da Singularidade Tecnológica (Stanislaw Ulam, Vernor Vinge, Ray Kurzweil), ou a da Hipótese da Simulação (Trilema de Bostrom) que terá raízes anteriores, na Alegoria da Caverna de Platão, por exemplo.
A progressiva automatização e substituição do trabalho humano pelo de máquinas poderá um dia libertar o ser humano, tornando todo o sistema económico, político e até a própria ideia de Estado desnecessários?
A Singularidade Tecnológica sugere que entre 2040 e 2045 o futuro desenvolvimento da Inteligência Artificial poderá dar origem ao início de um movimento exponencial em que máquinas constroem outras máquinas cada vez mais perfeitas, numa progressão que escapará à compreensão imediata do ser humano. Pouco depois, em 2048 será o centenário de “1984” de George Orwell. Segundo esta proposta de Miguel Soares, apresentada através de uma animação vídeo e um conjunto de imagens, este movimento criaria uma espécie de “máquina do mundo” capaz de cuidar e alimentar cada ser humano e gerir os recursos do planeta.
Será o capitalismo e a competição apenas uma ferramenta, a única, para chegar a tal porto? Poderia esta sucessão de eventos dar origem a um salto evolutivo no ser humano, permitindo por exemplo, a cada pessoa encontrar a sua vocação natural?
Miguel Soares, Junho 2016
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