Exposição Actual

Gonçalo Pena – “GAITA!”

 

 

Os trabalhos de Gonçalo Pena em exposição refletem o confronto entre formas de pensar indexadas a diversos contextos materiais e técnicos. Ao contrário das duas exposições anteriores na galeria Graça Brandão, as quais apresentaram sobretudo desenho, “Gaita!” aborda objetivamente a pintura. Tal sucede, porém, de um modo muito diferente de “Salão de Outono”, exposição realizada em 2008 nesta mesma galeria, e cuja ironia, como referi à época, apontava para um ciclo concentrado numa exibição de qualidades e profusão representativa.

 

  

De modo diferente, “Gaita” ensaia uma negação e dá início a um programa complexo de auto-comentário e auto-corrosão, uma crítica às tradições de artes visuais como um todo. Esta corrosão tem vindo desde há muito a ser perseguida no trabalho de Gonçalo Pena através do desenho. Aquilo que nos surge agora é uma extensão de estratégias oriundas de um pensamento claro de desenho para os terrenos materiais próprios da tradição pictórica. A passagem faz-se aqui através da pintura acrílica sobre papel em vários formatos. A presente exposição parece corresponder sobretudo, no âmbito declarado da tensão entre experiência de liberdade e consciência de finitude, a um empoderamento, a uma reivindicação estética e poética no interior de uma economia canibalizante de conteúdos.

 

 

“Gaita” é uma interjeição de irritação já em desuso e irrompe fálica em vez de muitas outras, no terreno do aceitável. É também correspondente a todo um glossário de expressões usadas em tantos manifestos de ruptura do modernismo: “Pum, pim, pimba, catrapuz, gaita!” É uma resposta de carnaval da morte em todas as suas guisas. Corresponde, por isso e bem, ao processo de destruição contínua operada em atelier, tomando-a aqui na negação radical da anterioridade, na recusa do conforto proporcionado pela série, marca, estilo.

 

 

Nesta exposição, as pinturas, os desenhos, funcionam literalmente como peças que se articulam. São dispositivos conceptuais e conquistam o direito ao espaço integral da poética visual e não só. São inícios e indícios para trilhos. Alguns destes inícios consistem em afirmações históricas, citações de processos, apropriações para prosseguir produções. Outras imagem-objecto pensam o seu devir enquanto médium, tanto num sentido afirmativo como destrutivo. Outras procedem como ressacas mais ou menos grotescas de ideologia e aparelhos visuais correspondentes. Outras ainda trazem à superfície agências corpóreas diversas, como ensaios de heteronímia ou aglomerações sincréticas.

 

 

 

 

André Poejo, 2019

Categoria

Exposições Anteriores