Tiago Alexandre, “Entre o boné e os ténis”
Quem eu?
Tiago Alexandre, na sua primeira década de atividade como artista e curador, afirmou-se como um dos nomes mais sólidos da geração “SUB 30”, que chegou à maioridade no novo milénio. A conjugação da diversidade de recursos formais com a consistência e complementaridade das problemáticas evocadas, torna a obra de Tiago Alexandre especialmente aliciante em termos de descoberta de um autor singular mas também de possibilidade de abordagem do nosso atual “ar do tempo“.
A primeira exposição individual na Galeria Graça Brandão é plenamente representativa dessas diversidade e consistência.
Em termos materiais constatamos um igualmente eficaz domínio do video ( original ou apropriado ), pintura ( pasta de óleo sobre papel ), desenho ( neste caso escrita sobre a parede e sublinhe-se o carater manual e repetitivo desta escrita ) ou objetos escultóricos ( modelados ou apropriados ). Em todas as modalidades de trabalho destaca-se a importância concedida aos ritmos e padrões ( encenação dos tempos da perceção e atenção ) através de um rigoroso controle do som e da luz que constituem uma espécie de guia invisível para a visita à exposição.
Quais são as temáticas entrelaçadas que a exposição nos sugere ? A resposta pode começar pelo título : “ Entre O Boné E Os Ténis “.
Entre os ténis e o boné geralmente está um corpo, talvez um corpo relativamente jovem , mais propenso a este tipo de adereços, talvez um corpo com um razoável potencial de crescimento e transformação. É o que se chama processo de socialização e construção da identidade individual que, sendo permanente, não deixa de ser mais intenso em determinados períodos. Aqui surgem as referencias à singularidade de uma trajetória biográfica que, por ser ( como todas ) única, não deixa de remeter para experiencias tão universais como as da família que a cada um calha ( “ Mom & Dad “, “ Dancing Days “ ), as aventuras e desventuras dos jogos e culturas juvenis e a invenção e encenação de si próprio, enquanto formas de negociação e relacionamento com as instâncias de autoridade em geral.
A invenção e encenação sociais de si próprio são indissociáveis da relação com objetos, como bonés, chapéus, camisetas ou motorizadas, que, hoje em dia, são também indissociáveis de um culto das marcas, cuja importância simbólica e cultural vai muito para além do simples marketing económico. Sem esquecer que as marcas são também entidades gráficas, sempre envoltas em música e luz. Vemos referências a Los Angeles, pátria do estrelato holywoodesco, banhada por um oceano que não chega a Sacavém. Uma cabeça apreensiva coberta de diamantes (?). Vemos um percurso infinito dentro de um labirinto de que nunca se sai mas onde mesmo assim se encontra um “smile” (“ Stand by Me “, lembrem-se do filme e, já agora, de River Phoenix). Disseram-me que este labirinto costuma ser habitado por “monstros mutantes” que aqui não se vêem talvez porque foram substituídos por nós. Nós, os visitantes, a quem por certo se dirigem as frases inscritas nos bonés.
“ Every move you make “, “ Every word you say “. Quem, eu ?
Alexandre Melo
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