Bestiário Africano : Animais de África encontram-se com os da dupla LealVeileby
Dando continuidade à apresentação que temos feito na Galeria de trabalhos de Arte Africana, coordenada pela artista Teresa Lacerda, apresentamos uma nova exposição. Desta vez, dado que a exposição patente nos Pisos 0 e 1 da Galeria, “Janeiro Grotesco”, incluiu alguns pequenos trabalhos representando vacas, porcos, carneiros e cães, convocamos animais representados na coleção da Teresa. Saídos das caixas, onde se encontram escondidos desde que a Teresa foi despejada da sua loja na Rua da Rosa, poderão ser admirados nas paredes amareladas da “Sala ao Lado” da Galeria.
Janeiro de 2023
Teresa Lacerda
José Mário Brandão
“Nas civilizações africanas, o estatuto das relações constituídas entre os humanos e os animais é marcado pela sacralidade; mas representa múltiplas nuances. Por detrás dos atos rituais, dissimulam-se comportamentos ambivalentes, que provêm de duas ordens complementares, a da natureza e a da cultura. Deste ponto de vista, os poderes excecionais de um rei, de um chefe, de um oficial ou de um feiticeiro, definem-se em função de uma proximidade ou de uma filiação com uma criatura possante, perigosa, do mundo terreno ou aquático, como o búfalo, o leopardo, o crocodilo, ou o peixe gato…
Os diferentes modos de apropriação das “qualidades” de um animal, determinam, entre outros, sistemas simbólicos postos em acção na gestualidade, na palavra, nos suportes de culto, insígnias de dignitário e acessórios. Estes objetos, de formas estilizadas e despojadas ou, pelo contrário, esculturas elaboradas constituídas de elementos vários, sugerem surpreendentes encontros onde os humanos, os espíritos e os animais dialogam de maneira singular.”
Christiane Falgayrettes – Leveau
Musée Dapper, Paris
As danças rituais africanas usam muitas vezes a representação de animais para comunicar com os espíritos – numa interrelação humano – animal – espírito. Esta tríade convoca as características dos animais, como a força, a agilidade, a longevidade, a manha, a agressividade, etc. A parte superior da máscara compõe-se de objectos figurativos (esculpidos ou em pano) de pássaros, antílopes, macacos, hienas, roedores, porcos espinhos, grandes penas de calau, etc. Esses elementos figurativos cobrem apenas a cabeça de quem os usa. O resto do corpo é coberto de um fato completo, confecionado em fibras vegetais ou molhos de folhas cozidos que parecem grandes capas, cobrindo quem dança da cabeça aos pés. Cada máscara possui um carácter particular que manifesta as forças vitais do mundo da floresta, as forças dos espíritos que impõem a quem as veicula a coreografia e o acompanhamento musical por onde se exprime a sua natureza.
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